quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Malabares para um cotidiano

Dentre os meus tenho o sotaque
mais estranho.
Meus versos partem em busca
de esconderijos pela casa.
Zanzam noturnos como ratos na cozinha.
Mas falo do palco, do trapézio,
do contorcionismo lexical da poesia.
Eles fazem sim com a cabeça,
simulam sobre os olhos atenção
e engatam com a prosa corriqueira:
O vizinho que pôs o lote à venda,
a ração do gado que deve ser complementar,
a ingenuidade capital que tinha nosso pai.
Fico por aqui, prendo nos olhos
feições secretas do mandacaru.
E da cozinha surge a voz da mesa posta.
Mas nos amamos sob a mesma lona
e construímos ali juntos
nossos trejeitos inocentes.
 

Pouso para as árvores


Pouso para as árvores

Por vezes tenho que trocar o prêmio da vida
por revanches capitais.

Fico frágil nos preparos e o café se põe amargo.
Prendo os cabelos, aflitos, enredados pela indecisão.
Mas estas árvores daqui da praça, no finalzinho da tarde,
aceitam abertas o rumo dos pardais,
regam encantos e açúcar.

O aperreio natural dos passarinhos buscando
lugar para em corpos dormir,
não vem das pressas em códigos de barra.
Não reza em medidas de grandeza.

Mas em grandeza nascem eles
e as árvores eretas no assunto alado da tarde.
A poesia batendo vira pássaros também.
Antes de o mundo se por,
antes que a noite enraíze seus escuros
e os milagres fujam daqui.