Minha mãe costumava dizer que não entendia como uma menina de quatro ou cinco anos tinha a paciência de sentar-se numa pedra e ficar lá por horas a olhar a natureza. Eu dava risada desses comentários. Mas sempre tive essa mania mesmo. De vez em quando me pego parada, cismada como se tivesse um capim na boca, e mesmo morando em apartamento, aproveito um pedaço apenas da árvore, do céu, oferecidos pelas janelas ou pelo espaço aberto na área de serviço.
É intrigante essa atitude de olhar pra trás. Ou mesmo de ser despertada no gerúndio por algo novo, diferente. Pra mim, geralmente esbarro com a poesia. As cenas, as palavras, os gestos que me tomam algumas vezes no cotidiano injetam em mim, de algum modo, o soro da poesia.
Mas nem sempre estive ciente disso. Só de uns anos pra cá. Eu não sabia que a poesia estava de olho em mim. Isso foi acontecendo aos poucos. Eu adoro ler desde criança, aprendi a ler cedo e naquele tempo, as crianças só freqüentavam a escola a partir dos sete anos. E eu ficava torcendo pra atingir logo tal idade e ir pra escola.
Tive uma professora de Português que levou pra sala, na minha quarta série (fundamental) a música do Chico Buarque: A Banda. Aquilo me emocionou tanto! Além disso, antes de ir pra escola em Arapiraca, interior de Alagoas, havia um programa na rádio onde o Zé do Rojão balançava um chocalho no intuito de despertar os moradores da região, os ouvintes. Contudo, despertava mesmo era a poesia dentro de mim. Ele recitava poemas de Zé da Luz, logo depois. Relíquias da vida.
Eu já tive momentos mambembes com o Palhaço Biribinha e seu circo engraçado. Onde muitas vezes conversamos sobre teatro e a Farsa (teatro de costumes) que era apresentada no circo de seu pai em outros tempos.
Já tive meu pai no quintal da casa pedindo paciência a um gato com fome, enquanto ele cortava a carne em tirinhas.
Já tive minha avó colhendo quiabos na horta e ralando comigo sobre meus desastres de catar nos monturos pedaços de vidro (garrafas quebradas) e cortando o dedo polegar. Ela nem sabia que tais cacos tinham ares de diamante.
Já tive minha mãe dizendo à enfermeira aos sussurros: é boa menina, ela faz poesia, coisa que não dá dinheiro.
Já tive primas que no meio das brincadeiras, nos agarrávamos pelos cabelos e aos socos e xingamentos por eu ser uma neta bastarda. Logo depois, toda arranhada eu perguntava a minha vó enquanto ela colocava remédio no meu nariz: o que é bastarda, hem vó?
Já tive um amor que recitou pra mim a letra de uma música do Gonzaguinha.
Já tive um poema roubado.
Já tive um crucifixo italiano doado por uma amiga que eu adoro e que já me mandou tomar naquele lugar quando brigamos e que me perguntou onde estava o crucifixo ao me acompanhar ao hospital quando adoeci.
Já tive poemas e inocências importantes.
Hoje, tenho muitos poemas por fazer.
Hoje tenho o direito de inventar outra vez o que já tive.Por quantas vezes eu quiser.
Simplicidade é tudo na vida! Porque ser simples, é bem complexo...
ResponderExcluirAndei sumida das coisas, ou as coisas é que andaram sumindo de mim? Sendo assim, vim te visitar e te convidar para visitar meu Blog. Mais ainda, visitar a página que estou construindo aos poucos, com meus poetas preferidos Você comparece, óbvio!
Aproveito para dar um palpite: mude o fundo do para uma cor clarinha, vai ficar muito melhor para ler as coisas lindas que escreves...
http://coisasdeada.blogspot.com/
Aproveite para ser minha seguidora, vai!!!
Feliz 2012 Beijos
muito bonita a poesia, me vi dentro dela, tá ficando cada vez melhor, te amo !
ResponderExcluirA gente sempre se identifica com a simplicidade. Uma prosa carregada de poesia.
ResponderExcluirEu.
Gostaria de está incluso neste universo, quem sabe ate esteja, quem sabe, não? Talvez tenha sido eu a te declamar Gonzaguinha, acho que não; Não lembro! Mas me recordo muito bem que chorei rios com sua partida e hoje me alegro infinitamente com o dom de sua volta. Se fiz poesia não sei... Derramei sentimentos?
ResponderExcluirComo eu queria ter te conhecido antes, bem antes de teus...mas primeiro surgiu pra mim teu nome aliado a tuas palavras...depois poemas e teu semblante inesquecivel. sou teu fã agora e para sempre. Amém!
ResponderExcluirAh, quem me dera ser capaz de escrever assim...
ResponderExcluirTambém já tive inocências maravilhosas...Esta crônica é fácil de qualquer pessoa identificar-se.
ResponderExcluirUm texto cheio de sentimentos e revelações mnemônicas.
ResponderExcluirComo as palavras obedecem a um ritmo tão cheio de sentimentos, é incrível como as palavras conseguem dizer muito mais nas mãos d quem sabe.
ResponderExcluirJá estava com saudades de visitar seu blog. Que belo texto, poetisa.
ResponderExcluirEncontrei este blog por acaso e sinto muita alegria quando vejo crônicas como esta. Belo texto, rico em cotidiano e vantagens emocionais.Gostaria de conhecê-la um pouco mais.
ResponderExcluirJoão Santana